terça-feira, 6 de agosto de 2024

Rebeca que bem podia ser a minha princesa Bernarda.

 




Se eu tivesse que escolher uma brasileira para encarnar “ Bernarda, princesa escravizada que virou senhora de Engenho na Bahia”, eu escolheria Rebeca Andrade, nosso Orgulho Nacional.

Na Fundação Biblioteca Nacional / EDA, sob o número 775.547, livro 1.505, folha 202, está registrada a Coleção Bahia, Cana, e Hipocrisia ( 5 volumes) que escrevi .  

São romances misturados com História de nossa Nação Miscigenada por excelência, graças a Deus

  No 13° capitulo - A princesa escravizada que virou senhora de Engenho na Bahia- do Volume 1, está escrito: Entre elas uma jovem de rara beleza, parecia uma princesa, e era, mas nem o comerciante africano, que morava numa região distante de onde ele havia sido capturada, que a trocara por rendas de Bruxelas sabia disso.

Somente alguns escravos e duas escravas que com ela foram negociados pelo capitão Andries Van den Bergen.

Essa escrava chamou atenção de Manuel Leite de Cucujães.

Desempenada, airosa, esbelta, elegante ao andar, se sobressaia das demais escravas e se distinguia dos outros escravos.

O novo senhor de Engenho, chamou a Cipriano, e mandou que a levasse para a Casa Grande.

Ela era uma princesa de Uíge, seu pai era o deposto e assassinado Soba Grande do povo Bakongo, um grupo étnico banto, vendida por seu tio, o novo Soba Grande pelas forças das armas, para os traficantes de escravos itinerantes que supriam os da cidade litorânea de Cabinda.

O Soba Grande era a máxima autoridade do povo.

Havia os outros Sobas.

Esses ajudavam a manter a governabilidade e em conselho elegiam o Soba Grande.

Ela estava se preparando para fugir com duas de suas companheiras, protegidas por seis homens fortes da guarda de seu pai, quando os guardas de seu tio chegaram e todos foram feitos prisioneiros. Presos, jogados numa espécie de masmorra, à espera dos traficantes de escravos.

A andaram em fila atados uns aos outros pelo limbambo (correntes, ou madeiras, ou ferros que uniam os escravos pelo pescoço), com os pés sangrando, não recebendo alimentação suficiente, junto com outros capturados em outros lugares, até chegarem nas imediações de Cabinda, quando o negociante do litoral os comprou, sem perguntar de onde eles vieram, só quantos eram, e quanto custavam.

Levados para um barracão imundo, em condições miseráveis ficaram esperando o comprador estrangeiro, até que chegou o Werkelijke Nautilus, onde o lote todo foi negociado com seu capitão, por bom preço, já que o negociante não queria investir na manutenção deles.  

Examinados pelo Cirurgião-barbeiro somente os com relativa boa saúde foram embarcados. Os doentes ficaram aos cuidados de um feitor branco que os levou para um lugar nos arrabaldes de Cabinda.

A viagem foi atroz, mas as laranjas evitaram que muitos caíssem doentes.

Dois, um homem e uma mulher, morreram e foram jogados ao mar.

O chicote comia sem mais aquela, mas só nos resistentes, e na hora da distribuição do alimento.

De resto era uma miséria só.

Algumas mulheres foram molestadas por marujos a noitinha, quando os oficiais estavam dormindo, mas a Princesa, que ficou no fundo do porão cercadas pelo seus, nem sequer foi notada.

Houve o desembarque, a princesa levada embora, para desespero dos seus.

Na Casa Grande a princesa foi bem tratada por uma velha escrava alforriada por mestre Bernardo Catarino, chamada de vó Rita, que administrava a morada de Manuel Leite de Cucujães.

A velha chamou as mucamas- moças escolhidas por ela a dedo para auxiliar nos serviços domésticos no mercado de escravos em Salvador - e ordenou que desse um banho de tina, a mesma que o Sinhô usava, e a vestisse o mais rápido possível.

 A princesa estava entendo tudo o que elas falavam, já que se comunicavam em quimbundo, pois seu pai obrigou a todos as princesas de sua família aprender outros dialetos, outros usos e costumes, já que ele, para fortalecer o seu poder, queria casa-las com nobres de outras etnias, ou nações, ou tribos.

Ela sorriu pela primeira vez desde que foi capturada.

Vó Rita percebeu o sorriso, e logo compreendeu que a moça tinha entendido o que elas estavam falando.

A Velha muito sabida armou para recém-chegada.

Jogou o pano que trazia na cinta e gritou em quimbundo:

“Pega”.

A moça virou e pegou.

“ Sunce sabe minha fala ”, disse rindo com as mãos na cintura Vó Rita.

“ Sim sei”, também, rindo a bela moça.

“Antão, vá se levar, vá”.

O banho foi demorado, pentearam seus cabelos, a perfumaram com água de flor de laranjeira.

A vestiram com a melhor roupa que Vó Rita havia comprado para vestir as mucamas em dia de festa.

E a velha levou a moça para sala.

Sentaram nas colchas colocadas no chão daquele cômodo que era uma espécie de sala de visitas.

“Se Sinhô havia mantado trazê-la para a Casa Grande, era ali que ela tinha que ficar e não na cozinha”, pensou a Vó Rita.

Conversar, conversaram, e de repente a velha de um pulo.

Chegou na porta da cozinha e falou para o garoto que estava sempre sentado ali para fazer mandados.

“ Moleque, vá chamar Pai Expedito”.

Ela e Pai Expedito eram as maiores autoridades entre os escravos, a palavra deles era lei.

Pai Expedito chegou e os dois conversaram baixinho.

E saiu em direção a Senzala e falando com o Feitor – chefe exigiu duas moças recém-chegadas para serviço da Casa Grande, sendo prontamente atendido.

Antes de Sinhô Manuel voltar para a Casa Grande, as duas companheiras da princesa já estavam banhadas, penteadas, cheirosas, arrumadas, e todas estavam alegremente conversando na cozinha, em quimbundo.

Ele levou um grande susto.

Levou um susto maior quando viu Pai Expedito, junto com os capatazes Baruti e Danladi, homens livres, ambos africanos de grande coragem, e que mantinham sempre, de maneira surpreendente, os escravos na linha no canavial sem usar o chicote.

“ O que é tão importante, para gente tão importante estar aqui? ”

Vó Rita entrou com a princesa, e as duas moças.

Pai Expedito fez um sinal e ela começou a falar.

Contou quem era aquela moça linda que ele havia mandado trazer para a Casa Grande e o que ela significava para eles, os escravos e os africanos livres.

Manuel viu o chão sair de debaixo de seus pés.

Sentou, ou melhor ariou no chão.

Ficou pensando, pensando, pensado, pelo tempo que ele nunca soube precisar.

“ Se é assim eu caso com ela”.

“ Como? ”, perguntou um Pai Expedito assustado.

“ Eu caso com ela. Ela é escrava, eu a liberto e caso com ela. E liberto as duas moças aí, também, só que elas vão ter que casar com esses dois, Baruti e Danladi, na mesma cerimônia”.

Os três eram homens bonitos, fortes, agradáveis de serem vistos.

Foi a vez de Vó Rita sentar.

Ela estava traduzindo as palavras de Manuel, e antes mesmo de alguém falar alguma coisa, a princesa se aproximou do senhor do Engenho, se ajoelhou e beijou suas mãos.

“ Vixi !!!! Ela aceitou”, falou Vó Rita.

“O que tá feito, tá feito”, falou Pai Expedito.

As moças se levantaram, estavam ajoelhadas em sinal de respeito, e foram beijar as mãos de seus noivos.

Como eram bonitas, os dois ficaram satisfeito com o resultado da entrevista.

“ Chame padre Enéas lá na capela”, e o moleque saiu ventando atrás do sacerdote.

“ Tem alguém morrendo? ”, perguntou padre Enéas.

“ Não”, respondeu Manuel, e explicou o acontecido.

“ Eu caso, mas ela tem que batizar”.

“ As outras, também”.

“ Fale com elas, Vó Rita”.

Nenhuma colocou objeção.

“ E como vai ser o nome da princesa? ”

“ Bernarda, em homenagem a meu amigo Bernardo Catarino”.

E assim uma princesa escravizada que virou senhora de Engenho na Bahia.

Foi o que escrevi.

Jorge Eduardo Garcia 

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