Se eu tivesse que escolher uma
brasileira para encarnar “ Bernarda, princesa escravizada que virou senhora de
Engenho na Bahia”, eu escolheria Rebeca Andrade, nosso Orgulho Nacional.
Na Fundação Biblioteca
Nacional / EDA, sob o número 775.547, livro 1.505, folha 202, está registrada a
Coleção Bahia, Cana, e Hipocrisia ( 5 volumes) que escrevi .
São romances misturados com História de nossa Nação Miscigenada por excelência, graças a Deus
No 13°
capitulo - A princesa escravizada que virou senhora de Engenho na Bahia- do
Volume 1, está escrito: Entre elas uma jovem de rara beleza, parecia uma
princesa, e era, mas nem o comerciante africano, que morava numa região
distante de onde ele havia sido capturada, que a trocara por rendas de Bruxelas
sabia disso.
Somente alguns escravos e duas
escravas que com ela foram negociados pelo capitão Andries Van den Bergen.
Essa escrava chamou atenção de
Manuel Leite de Cucujães.
Desempenada, airosa, esbelta,
elegante ao andar, se sobressaia das demais escravas e se distinguia dos outros
escravos.
O novo senhor de Engenho,
chamou a Cipriano, e mandou que a levasse para a Casa Grande.
Ela era uma princesa de Uíge,
seu pai era o deposto e assassinado Soba Grande do povo Bakongo, um grupo
étnico banto, vendida por seu tio, o novo Soba Grande pelas forças das armas,
para os traficantes de escravos itinerantes que supriam os da cidade litorânea
de Cabinda.
O Soba Grande era a máxima
autoridade do povo.
Havia os outros Sobas.
Esses ajudavam a manter a
governabilidade e em conselho elegiam o Soba Grande.
Ela estava se preparando para
fugir com duas de suas companheiras, protegidas por seis homens fortes da
guarda de seu pai, quando os guardas de seu tio chegaram e todos foram feitos
prisioneiros. Presos, jogados numa espécie de masmorra, à espera dos traficantes
de escravos.
A andaram em fila atados uns
aos outros pelo limbambo (correntes, ou madeiras, ou ferros que uniam os
escravos pelo pescoço), com os pés sangrando, não recebendo alimentação
suficiente, junto com outros capturados em outros lugares, até chegarem nas
imediações de Cabinda, quando o negociante do litoral os comprou, sem perguntar
de onde eles vieram, só quantos eram, e quanto custavam.
Levados para um barracão
imundo, em condições miseráveis ficaram esperando o comprador estrangeiro, até
que chegou o Werkelijke Nautilus, onde o lote todo foi negociado com seu
capitão, por bom preço, já que o negociante não queria investir na manutenção
deles.
Examinados pelo
Cirurgião-barbeiro somente os com relativa boa saúde foram embarcados. Os
doentes ficaram aos cuidados de um feitor branco que os levou para um lugar nos
arrabaldes de Cabinda.
A viagem foi atroz, mas as
laranjas evitaram que muitos caíssem doentes.
Dois, um homem e uma mulher,
morreram e foram jogados ao mar.
O chicote comia sem mais
aquela, mas só nos resistentes, e na hora da distribuição do alimento.
De resto era uma miséria só.
Algumas mulheres foram
molestadas por marujos a noitinha, quando os oficiais estavam dormindo, mas a
Princesa, que ficou no fundo do porão cercadas pelo seus, nem sequer foi
notada.
Houve o desembarque, a princesa
levada embora, para desespero dos seus.
Na Casa Grande a princesa foi
bem tratada por uma velha escrava alforriada por mestre Bernardo Catarino,
chamada de vó Rita, que administrava a morada de Manuel Leite de Cucujães.
A velha chamou as mucamas-
moças escolhidas por ela a dedo para auxiliar nos serviços domésticos no
mercado de escravos em Salvador - e ordenou que desse um banho de tina, a mesma
que o Sinhô usava, e a vestisse o mais rápido possível.
A princesa estava entendo tudo o que elas
falavam, já que se comunicavam em quimbundo, pois seu pai obrigou a todos as
princesas de sua família aprender outros dialetos, outros usos e costumes, já
que ele, para fortalecer o seu poder, queria casa-las com nobres de outras
etnias, ou nações, ou tribos.
Ela sorriu pela primeira vez
desde que foi capturada.
Vó Rita percebeu o sorriso, e
logo compreendeu que a moça tinha entendido o que elas estavam falando.
A Velha muito sabida armou
para recém-chegada.
Jogou o pano que trazia na
cinta e gritou em quimbundo:
“Pega”.
A moça virou e pegou.
“ Sunce sabe minha fala ”,
disse rindo com as mãos na cintura Vó Rita.
“ Sim sei”, também, rindo a
bela moça.
“Antão, vá se levar, vá”.
O banho foi demorado,
pentearam seus cabelos, a perfumaram com água de flor de laranjeira.
A vestiram com a melhor roupa
que Vó Rita havia comprado para vestir as mucamas em dia de festa.
E a velha levou a moça para
sala.
Sentaram nas colchas colocadas
no chão daquele cômodo que era uma espécie de sala de visitas.
“Se Sinhô havia mantado
trazê-la para a Casa Grande, era ali que ela tinha que ficar e não na cozinha”,
pensou a Vó Rita.
Conversar, conversaram, e de
repente a velha de um pulo.
Chegou na porta da cozinha e
falou para o garoto que estava sempre sentado ali para fazer mandados.
“ Moleque, vá chamar Pai
Expedito”.
Ela e Pai Expedito eram as
maiores autoridades entre os escravos, a palavra deles era lei.
Pai Expedito chegou e os dois
conversaram baixinho.
E saiu em direção a Senzala e
falando com o Feitor – chefe exigiu duas moças recém-chegadas para serviço da
Casa Grande, sendo prontamente atendido.
Antes de Sinhô Manuel voltar
para a Casa Grande, as duas companheiras da princesa já estavam banhadas,
penteadas, cheirosas, arrumadas, e todas estavam alegremente conversando na
cozinha, em quimbundo.
Ele levou um grande susto.
Levou um susto maior quando
viu Pai Expedito, junto com os capatazes Baruti e Danladi, homens livres, ambos
africanos de grande coragem, e que mantinham sempre, de maneira surpreendente,
os escravos na linha no canavial sem usar o chicote.
“ O que é tão importante, para
gente tão importante estar aqui? ”
Vó Rita entrou com a princesa,
e as duas moças.
Pai Expedito fez um sinal e
ela começou a falar.
Contou quem era aquela moça
linda que ele havia mandado trazer para a Casa Grande e o que ela significava
para eles, os escravos e os africanos livres.
Manuel viu o chão sair de
debaixo de seus pés.
Sentou, ou melhor ariou no
chão.
Ficou pensando, pensando,
pensado, pelo tempo que ele nunca soube precisar.
“ Se é assim eu caso com ela”.
“ Como? ”, perguntou um Pai
Expedito assustado.
“ Eu caso com ela. Ela é
escrava, eu a liberto e caso com ela. E liberto as duas moças aí, também, só
que elas vão ter que casar com esses dois, Baruti e Danladi, na mesma
cerimônia”.
Os três eram homens bonitos,
fortes, agradáveis de serem vistos.
Foi a vez de Vó Rita sentar.
Ela estava traduzindo as
palavras de Manuel, e antes mesmo de alguém falar alguma coisa, a princesa se
aproximou do senhor do Engenho, se ajoelhou e beijou suas mãos.
“ Vixi !!!! Ela aceitou”,
falou Vó Rita.
“O que tá feito, tá feito”,
falou Pai Expedito.
As moças se levantaram,
estavam ajoelhadas em sinal de respeito, e foram beijar as mãos de seus noivos.
Como eram bonitas, os dois
ficaram satisfeito com o resultado da entrevista.
“ Chame padre Enéas lá na
capela”, e o moleque saiu ventando atrás do sacerdote.
“ Tem alguém morrendo? ”,
perguntou padre Enéas.
“ Não”, respondeu Manuel, e
explicou o acontecido.
“ Eu caso, mas ela tem que
batizar”.
“ As outras, também”.
“ Fale com elas, Vó Rita”.
Nenhuma colocou objeção.
“ E como vai ser o nome da princesa?
”
“ Bernarda, em homenagem a meu
amigo Bernardo Catarino”.
E assim uma princesa
escravizada que virou senhora de Engenho na Bahia.
Foi o que escrevi.
Jorge Eduardo Garcia
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